- Oi
- Anche libero va benne. Como está?
- Aprendendo italiano escondido, danadinho. Mas "bene" é com um "n" apenas. Seu peralta.
- É, desconfiei que fosse um "n" só. Ah, mas nem sei italiano, isso aí é um nome de um filme.
- Seu sem graça, você poderia fingir que estava estudando italiano.
- É, mas nem é o caso. Italiano tá longe, longe. Ou perto, perto, já que o povo aqui é tudo italiano.
- É. Na Moca né? No Bexiga. Tem até aquele livro que adora cair no vestibular, Brás, Bexiga e Barra Funda.
- Isso, tem esse livro.
- Tenho esse livro. Adoro.
- Nunca li, você vê. Um livro que li esses dias foi o livro que você me mostrou no ônibus, lembra?
- O da Clarice! Conta suas impressões.
- Eu tô bem rosado nesse instante, mas eu gostei demais também.
- Como é estar rosado?
- Ler Clarice me exige um narrador diferente na mente. É diferente dos que eu geralmente uso. Claro, cada um é diferente. Mas com ela minha voz em off é mais suave.
- Mas conta que você achou do livro. Você disse que gostou, mas eu queria saber que tipo de viagens você tem com ele.
- Uma viagem como quando saio de um filme que mexe comigo. Dá tempo pra mim, me fez espelho, sabe?
- Não sei, mas vou ver se descubro. A Clarice me exige um tipo de leitura tão diferente. É como você disse. Por exemplo: Heidegger me exige a mesma intensidade que a Clarice. Mas ele fica estuprando as palavras, ruminando, até que você, de tanto ler, adivinha o sentido novo que ele quer dar. O difícil é que ele escreve de um jeito claro, preciso, tão claro e preciso que parece hermético. É como ir a Brasília pela primeira vez: tudo tão ordenado que você se perde. Já a Clarice, não; ela só me pede entrar no ritmo dela. Ela é uma dança.
- Ah, sim. Uma dança. Tem que entrar no ritmo dela, e é ótimo, na verdade. Me exige alguma coisa, mas não é difícil, eu não me perco. O que me faz me perder, talvez, seja pelo fato de ainda estar bem inserido no romance (um jeito de se perder), e aquilo que eu falei, a sensação pós-cinema.
- Você está ainda dançando, o ritmo da sua respiração ainda não voltou ao cotidiano.
- É, não voltou. Sinto que em certos momentos eu até poderia ter ido mais longe, mas não ia.
- Não conseguiu acertar o passo?
- O passo exigido?
- Não sei se exigido, mas o que te permite dançar legal.
- Dancei gostoso.
- Eu também, sem pisar no pé de ninguém, nem no meu próprio.
- Bem, eu sempre piso no meu, um momento ou outro dou uma pisada, mas não faz da dança pior.
domingo, 9 de março de 2008
diálogo de impressões
Postado por cazarim de beauvoir às 12:44
Marcadores: Ana Burtâsçi, Clarice Lispector, crítica literária
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1 comentários:
gostei disso.
aliás, gostei bastante disso.
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