CL: Senhor Boulez, o que o senhor pensa sobre a música serial?
PB: Clarice, acho que é uma técnica entre outras. Hoje em dia, me parece ultrapassada. Mas à época, a outra, nos parecia verdadeiramente promissor o controle absoluto da linguagem musical.
CL: Que, ao final das contas, percebemos ser impossível...
PB: De fato, de fato. Mas veja bem, Clarice, a linguagem poderia sim ser controlada de modo relativamente (eis uma forte antítese, mas não um paradoxo a seguir) absoluto. Mas e quem controlaria o controle?, e é essa dúvida que nos levou ao abandono do sustentáculo representado pelo serialismo integral.
CL: E a técnica serial tomada como meio, não como fundamento?
PB: Válida como a máquina de escrever nos dias atuais. Ultrapassada, mas válida. Afinal, a materialidade do som das teclas, o rolar do papel para trocar de linha, o prazer de arrancar folhas escritas incorretamente e de fazer bolinhas de papel com raiva, com elas, a fita, tudo isso material talvez faça falta.
CL: Assim como...
PB: Assim como a investigação de uma escritora acerca do processo criativo e da história de um compositor. Faz falta este diálogo. E me falta perguntar o que no Brasil era tido como controle absoluto durante o Modernismo.
CL: Escrevo.
PB: Esfíngica. Entendo...
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
controle
Postado por cazarim de beauvoir às 11:15
Marcadores: Clarice Lispector, entrevistas, Pierre Boulez
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